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Reflexões sobre o texto "Brasil, uma vitória da direita"

20-10-2004

Reflexões sobre o texto "Brasil, uma vitória da direita"

Zanini H.
Rebelión
Gostaria de fazer um pequeno comentário sobre o texto de Maestri e Calil, "Uma vitória da direita" [publicado en Rebelión el 17-10-.2004].

Acho saudável que qualquer agrupamento abrigue segmentos que tenham estratégias diferenciadas. Ao ler o texto, obviamente identifiquei-me com o que Maestri e Calil classificam como "último segmento", o qual nega - veementemente, agregaria eu - o eleitoralismo e o desconhecimento da base pela direção, embora não tenha bem claro o quê seja essa direção a que se referem. Alguns quadros dedicados à criação do PSOL buscam a construção de algo sem uma direção hierarquizada. Mas esse é um debate acalorado e fica para outra oportunidade.

Setores rebeldes, principalmente entre a juventude, vêm discutindo e experimentando novas fórmulas de gestão, participação e atuação, visto que o conceito de partido tradicional está profundamente desgastado - ultrapassado na minha opinião.

Maestri e Calil acertam quando apontam que esses setores do PSOL defendem a luta anticapitalista e antiimperialista. Há um debate entre alguns grupos que aponta, por exemplo, para uma discussão franca sobre a verdadeira eficácia de diversas lutas (reformas universitária, trabalhista, transgênicos, ALCA, etc.). Esse é um debate delicado, embora necessário.

Há algum consenso que o alvos de diversas ações não deveriam ser somente as medidas e reformas neoliberais, mas sim o sistema que as permitem, incentivam e financiam. Essas medidas serão sempre subservientes e estarão a serviço dos interesses imperiais e aos do grande capital. Entendem esses grupos que uma eventual vitória contra alguma das reformas não será o suficiente para combater e destruir a política de dominação e que outras reformas e medidas virão. Nesse sentido, atividades e ações vêm sendo desenvolvidas por quadros do partido.

Os votos nulos, brancos e abstenções apontados pelos autores, entretanto, não são exatamente frutos de alguma liderança de Plínio de Arruda Sampaio ou de Waldemar Rossi. Os vinte e quatro milhões de eleitores que se recusaram a participar de um processo que entendemos ser ineficaz e nocivo aos interesses populares certamente não leram o documento-declaração-apelo de Arruda Sampaio, de Rossi e dos demais que o assinaram.

Vinte e quatro milhões simplesmente não acreditaram nas estruturas partidárias tradicionais. Vinte e quatro milhões entenderam que não será através de eleições que poderão lutar contra o único e verdadeiro poder - o econômico. Essa discussão deveria ser estabelecida rapidamente entre os compas do PSOL. Precisamos entender o que está acontecendo, sob pena de, ao invés de criarmos o "novo", estarmos criando "mais um", o que seria o fim de um projeto que, se debatido sem medos ou tabus, talvez seja sim um projeto revolucionário.

Novas experiências populares estão surgindo a cada dia, assim como novas formas de gestão e organização horizontal. Há uma busca por novos caminhos, todos eles relacionados com as autonomias. Nesse sentido, um partido novo - não um novo partido - deve, em nossa opinião, entender o processo, engajar-se nessas lutas e servir como ferramenta no trabalho de reprodução dessas experiências e aprender com as soluções e com os equívocos.

A luta no parlamento deve ser rediscutida. Sabemos que não será por decreto que alcançaremos nossos objetivos. Embora a luta institucional possa eventualmente representar alguma pequena vitória pontual, ela jamais será um mecanismo de satisfação dos interesses populares por estéril que se transformou. O sistema que queremos destruir tem suas defesas montadas e desenvolvidas com muita eficácia. Lutar com os métodos que o próprio sistema nos proporciona não será jamais o caminho da vitória popular, mas sim uma ferramentade manutenção das estruturas.

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